segunda-feira, abril 29, 2019

Argumentos sobre a existência de Deus 1. O argumento da contingência - Leibniz


Até aqui, falámos apenas como simples físicos; importa agora elevar-se à metafísica,recorrendo ao grande princípio, comummente pouco usado, o qual afirma que nada se faz sem razão suficiente; isto é, que nada sucede sem que seja possível àquele que conhece assaz as coisas fornecer uma razão suficiente para determinar porque é assim, e não de outro modo. Posto este princípio,a primeira questão que se tem direito a fazer será: porque há alguma coisa em vez do nada? Afinal, o nada é mais simples e mais fácil do que alguma coisa. Ademais, na suposição de que as coisas tenham de existir, é necessário que se possa explicar porque é que elas devem existir assim, e não de outra forma. (M. § 32)8. Ora esta razão suficiente da existência do universo não se pode encontrar na série das coisas contingentes, isto é, nos corpos e nas suas representações nas almas; porque sendo a matéria indiferente em si mesma ao movimento e ao repouso, e a este ou àquele movimento, não pode nela achar-se a razão do movimento, e ainda menos de qualquer movimento em particular. E embora o movimento presente que existe na matéria derive do precedente, e este também de outro anterior, não se avançou muito, ainda que se fosse tão longe quanto se desejou; pois persiste sempre a mesma questão. É necessário, assim, que a razão suficiente, a qual não carece de qualquer outra razão, resida fora da série das coisas contingentes e se encontre numa substância que dela seja a causa, e que seja um Ser necessário, possuindo em si a razão da sua existência; de outro modo, não se teria ainda uma razão suficiente onde se pudesse parar. E esta razão derradeira das coisas chama-se Deus. (M.§§ 37; 3)
Leibniz, Princípios da natureza e da graça, p.8, Tradução Artur Mourão,
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