quarta-feira, outubro 18, 2023

Louise Glück - 22 Abril 1943 - 13 outubro 2023

 


Mãe e filho

Somos todos sonhadores; não sabemos quem somos.

 Alguma máquina nos criou; a máquina do mundo, a constritiva família.

Então, de volta ao mundo, polidos por suaves chicotes.

 

Sonhamos; não lembramos.

 

A máquina da família: pelagem negra,

florestas do corpo materno.

A máquina da mãe: a cidade branca

dentro dela.

 

E antes disso: terra e água.

Musgo entre as pedras, pedaços de folha e grama.

 

E antes, células numa imensa escuridão.

E antes disso, o mundo velado.

 

É por isto que você nasceu: para me calar.

Células de minha mãe e de que pai, é a sua vez

de ser fundamental, de se tornar uma obra-prima.

 

Eu improvisei; eu nunca me lembro de nada.

Agora é a sua vez de se deixar guiar;

é você quem exige saber:

 

Por que sofro? Por que sou ignorante?

Células numa imensa escuridão. Alguma máquina nos criou;

é a sua vez de se dirigir a ela, de perguntar

qual é meu propósito? Qual é meu propósito?


Tradução de Pedro Gonzaga

 A editora Relógio D'Água, tem traduções  de Inês Dias (Averno); Ana Luísa Amaral ( A Íris Selvagem); margarida Vale de Gato (Noite virtuosa e fiel)

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