Mãe e filho
Somos todos sonhadores; não sabemos quem somos.
Alguma máquina nos criou; a máquina do mundo, a constritiva família.
Então, de volta ao mundo, polidos por suaves chicotes.
Sonhamos; não lembramos.
A máquina da família: pelagem negra,
florestas do corpo materno.
A máquina da mãe: a cidade branca
dentro dela.
E antes disso: terra e água.
Musgo entre as pedras, pedaços de folha e grama.
E antes, células numa imensa escuridão.
E antes disso, o mundo velado.
É por isto que você nasceu: para me calar.
Células de minha mãe e de que pai, é a sua vez
de ser fundamental, de se tornar uma obra-prima.
Eu improvisei; eu nunca me lembro de nada.
Agora é a sua vez de se deixar guiar;
é você quem exige saber:
Por que sofro? Por que sou ignorante?
Células numa imensa escuridão. Alguma máquina nos criou;
é a sua vez de se dirigir a ela, de perguntar
qual é meu propósito? Qual é meu propósito?
Tradução de Pedro Gonzaga
A editora Relógio D'Água, tem traduções de Inês Dias (Averno); Ana Luísa Amaral ( A Íris Selvagem); margarida Vale de Gato (Noite virtuosa e fiel)
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