quarta-feira, fevereiro 12, 2025

Há fotografias que provam factos.


Destruição de um campo de refugiados em Jabalia. Entre os dias 8 de julho e 27 de agosto, mais de 2100 palestinos morreram na Faixa de GazaO Campo de Jabalia é um campo de refugiados palestinos estabelecido em 1948 pelas Nações Unidas para abrigar os deslocados pela expulsão palestina de 1948. Localizado 3 quilómetros a norte de Jabalia, na Faixa de Gaza, é o maior campo de refugiados em território palestiniano, com mais de 100 mil habitantes.

É o método científico que sustenta a construção colectiva da verdade. Não oferece uma verdade absoluta, mas um processo para testar, refutar, corrigir e demonstrar, aproximando-nos do real. Ou seja, a ciência é um percurso de dúvida permanente, de reavaliação contínua. Cada descoberta é uma verdade temporária, válida enquanto resistir à experiência, e resulta de uma cooperação diária entre milhões de pessoas que testam, desafiam e constroem sobre o conhecimento acumulado.

E é por isso que o método científico é o motor do progresso. Como sublinha Yuval Noah Harari em “Nexus”, foi a cooperação humana em larga escala que permitiu à Humanidade prosperar. Essa cooperação sempre implicou narrativas compartilhadas – sejam elas religiosas, económicas ou sociais.

O método científico é uma dessas narrativas. Ele estabelece um quadro partilhado para que diferentes sociedades e indivíduos possam confrontar ideias de forma racional e chegar a consensos baseados em provas. Essa característica torna-o um dos poucos espaços verdadeiramente universais.

Daí que o método científico seja o alicerce das sociedades abertas e plurais onde a verdade não é ditada pela força, mas conquistada pela evidência. Ele cria um terreno comum que transcende crenças individuais, permitindo que discordâncias sejam resolvidas pela razão. Esse processo fortalece a democracia, garantindo debates informados e decisões colectivas enraizadas na lógica e na transparência. No entanto, a inteligência artificial (IA) veio alterar este estado de coisas, abrindo espaço tanto para a desacreditação como para a substituição do método científico.

De facto a IA cria um espaço de dúvida radical, onde a confiança naquilo que tomávamos como certo é abalada. Fotografias, outrora prova de um acontecimento, são agora manipuladas com precisão. Um discurso gravado pode ser replicado por algoritmos que imitam a voz, os erros e até as emoções humanas. Mesmo transmissões ao vivo, símbolos máximos de autenticidade, podem ser suspeitas de manipulação. É uma fábrica de dúvidas.

Neste tempo, qualquer facto pode ser rotulado como falso. Se tudo pode ser falsificado, porquê aceitar o que desafia as nossas crenças? E se qualquer prova pode ser desacreditada, porque não escolher a que confirma os nossos preconceitos? Nos tempos de polarização, essa incerteza deixa de ser uma possibilidade intelectual e transforma-se numa arma política e cultural que descarta evidências com a desculpa de que são falsificadas – e só são falsificadas porque nos desconfortam.

E, no entanto, nunca pareceu tão fácil fazer a sociedade acreditar no que lhe é apresentado. Num ambiente saturado de informação e de estímulos incessantes, a capacidade de distinção entre o verdadeiro e o falso enfraquece. As pessoas acreditam porque o que vêem e ouvem confirma as suas expectativas ou alimenta as suas emoções. A IA não só tornou a manipulação mais sofisticada como acelerou a predisposição para aceitar narrativas pré-fabricadas, sem o filtro do questionamento crítico.

Adolfo Mesquita Nunes, O Fim da verdade, in Expresso,31 janeiro 2025

É o método científico que sustenta a construção colectiva da verdade. Não oferece uma verdade absoluta, mas um processo para testar, refutar, corrigir e demonstrar, aproximando-nos do real. Ou seja, a ciência é um percurso de dúvida permanente, de reavaliação contínua. Cada descoberta é uma verdade temporária, válida enquanto resistir à experiência, e resulta de uma cooperação diária entre milhões de pessoas que testam, desafiam e constroem sobre o conhecimento acumulado.

E é por isso que o método científico é o motor do progresso. Como sublinha Yuval Noah Harari em “Nexus”, foi a cooperação humana em larga escala que permitiu à Humanidade prosperar. Essa cooperação sempre implicou narrativas compartilhadas – sejam elas religiosas, económicas ou sociais.

O método científico é uma dessas narrativas. Ele estabelece um quadro partilhado para que diferentes sociedades e indivíduos possam confrontar ideias de forma racional e chegar a consensos baseados em provas. Essa característica torna-o um dos poucos espaços verdadeiramente universais.

Daí que o método científico seja o alicerce das sociedades abertas e plurais onde a verdade não é ditada pela força, mas conquistada pela evidência. Ele cria um terreno comum que transcende crenças individuais, permitindo que discordâncias sejam resolvidas pela razão. Esse processo fortalece a democracia, garantindo debates informados e decisões colectivas enraizadas na lógica e na transparência. No entanto, a inteligência artificial (IA) veio alterar este estado de coisas, abrindo espaço tanto para a desacreditação como para a substituição do método científico.

De facto a IA cria um espaço de dúvida radical, onde a confiança naquilo que tomávamos como certo é abalada. Fotografias, outrora prova de um acontecimento, são agora manipuladas com precisão. Um discurso gravado pode ser replicado por algoritmos que imitam a voz, os erros e até as emoções humanas. Mesmo transmissões ao vivo, símbolos máximos de autenticidade, podem ser suspeitas de manipulação. É uma fábrica de dúvidas.

Neste tempo, qualquer facto pode ser rotulado como falso. Se tudo pode ser falsificado, porquê aceitar o que desafia as nossas crenças? E se qualquer prova pode ser desacreditada, porque não escolher a que confirma os nossos preconceitos? Nos tempos de polarização, essa incerteza deixa de ser uma possibilidade intelectual e transforma-se numa arma política e cultural que descarta evidências com a desculpa de que são falsificadas – e só são falsificadas porque nos desconfortam.

E, no entanto, nunca pareceu tão fácil fazer a sociedade acreditar no que lhe é apresentado. Num ambiente saturado de informação e de estímulos incessantes, a capacidade de distinção entre o verdadeiro e o falso enfraquece. As pessoas acreditam porque o que vêem e ouvem confirma as suas expectativas ou alimenta as suas emoções. A IA não só tornou a manipulação mais sofisticada como acelerou a predisposição para aceitar narrativas pré-fabricadas, sem o filtro do questionamento crítico.

Adolfo Mesquita Nunes, O Fim da verdade, in Expresso,31 janeiro 2025

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