Fotografia: Artur Bernardes Alves
O procedimento experimental define o conjunto de diálogos com a natureza tentados pela ciência moderna e fundamenta a originalidade desta ciência, a sua especificidade e os seus limites. Claro que é uma natureza simplificada, preparada, às vezes mutilada em função da hipótese preliminar, a que a experimentação interroga; isso não impede que, em geral, conserve os meios de desmentir a maior parte as hipóteses. Einstein fazia notar que a natureza responde, na maioria das vezes, às questões que se lhe põem com um não e, às vezes com quiçá. O homem da ciência não faz, portanto, tudo o que quer, não obriga a natureza a dizer o que ele pretende, não pode, pelo menos por enquanto, projetar sobre ela qualquer dos seus desejos e esperanças mais caras. O homem da ciência, na verdade, assume riscos tanto maiores quanto mais a sua tática julga cercar a natureza, mais precisamente, encosta-la à parede.[1]É certo que, como sublinham os críticos, quer ela diga sim quer não, a natureza é sempre compelida a confirmar a linguagem teórica na qual lhe falam. Mas essa própria linguagem evolui segundo uma história complexa onde intervêm ao mesmo tempo o balanço das respostas obtidas da natureza, a relação com outras linguagens teóricas e também a exigência que renasce sem cessar sob novas formas, em novas questões, de compreender a natureza segundo o que cada época define como pertinente. Relação complexa entre as regras específicas do jogo científico – e em particular o modo experimental de diálogo com a natureza, que constitui uma coação maior desse jogo – e uma cultura à qual, mesmo sem o saber, o homem da ciência pertence, que influencia as suas perguntas e que marca, em troca, as respostas captadas.
O protocolo do diálogo experimental representa para nós uma
aquisição irreversível e garante que a natureza interrogada pelo homem será
tratada como um ser independente, que sem dúvida se força a exprimir-se numa
linguagem talvez inadequada, mas à qual os procedimentos impedem que diga as
palavras que se gostaria de ouvir. Fundamenta também o carácter comunicável e
reprodutível dos resultados científicos;
seja qual for o carácter parcial do que se obriga a natureza a exprimir, uma
vez que ela falou em condições reprodutíveis, todos se inclinam, pois não seria
capaz de nos enganar.
A Nova Aliança, Ilya Prigogine e Isabelle Stengers, (1986),Lx,
Gradiva, s.d, pp 78 e 79
[1]
Essa paixão pelo risco é inseparável do
jogo experimental que Popper traduziu em princípios normativos em The Logic
of Scientific Discovery,quando enunciou que o homem de ciência deve
procurar as hipóteses menos prováveis, isto é, as mais arriscadas, e tentar
refutá-las.

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