DIFICULDADES COM A FALÁCIA DO ARGUMENTUM AD HOMiNEM
Uma das falácias mais difíceis de expor e também uma das mais comuns chama-se 'argumentum ad hominem'. Esta designação refere-se a um argumento que é dirigido CONTRA A PESSOA E NÃO CONTRA O QUE A PESSOA DIZ, A FIM DE SE MOSTRAR QUE AQUILO A PESSOA DIZ NÃO PODE SER VERDADEIRO . A política dá-nos muitos exemplos de argumenta ad hominem. Suponhamos que um deputado de um partido de esquerda argumenta: 'É extremamente importante rejeitar a construção de centrais nucleares, pois os efeitos destas são nefastos para o ambiente no longo prazo.' Um deputado de direita poderia responder: 'Oh claro! Não podemos acreditar no que ele diz, pois ele é um homem de esquerda e sabemos que a esquerda está sempre a deitar abaixo o nuclear.' O deputado de direita está a dirigir o seu argumento contra o homem. Tentou refutar o que o deputado de esquerda disse referindo que este é partidário de uma ideologia oposta. Porém, esta refutação é baseada numa falácia, visto que a forma apropriada de refutar um tal argumento consistiria em reunir factos que mostrassem que o que ele disse é falso - nomeadamente, que a construção de centrais não é assim tão nefasta para o ambiente.
O que faz com que o argumentum ad hominem seja tão persuasivo, e tão difícil de refutar, pode mostrar-se com o seguinte exemplo. Suponhamos que uma testemunha num tribunal está a depor e diz que viu o réu cometer um crime. Suponhamos, além disso, que ao interrogar a testemunha o advogado de defesa prova que esta já depôs em outros julgamentos e que em alguns casos o seu testemunho se veio a revelar falso (assumamos, para ajudar ao exemplo, que a testemunha chegou a ser condenada por perjúrio). A nossa tentação, enquanto juízes, seria a de não ter em conta o que a testemunha diz neste julgamento, pelo facto de esta não ser uma fonte de informação fiável. Contudo, não tê-lo em conta é incorrer na falácia do argumentum ad hominem. O que a testemunha diz nesta ocasião pode ser verdadeiro. Se possível, o seu testemunho devia ser testado confrontando-o com outra evidência disponível ou que pudesse vir a estar disponível durante o julgamento. Aquilo que é importante é reconhecer que devemos considerar o que é dito independentemente de quem o diz. NÃO PODEMOS MOSTRAR QUE UMA DECLARAÇÃO É FALSA APENAS PORQUE SE PODE MOSTRAR QUE O INDIVÍDUO QUE A PROFERE TEM FALTA DE CARÁCTER.
Richard Popkin and Avrum Stroll, Philosophy Made Simple (New York, 1993, pp. 262-263). Tradução Carlos Marques.