quinta-feira, junho 20, 2013
segunda-feira, junho 17, 2013
Reflexões sobre a greve de professores
Ao fim de largas horas de
indecisão optei por fazer greve. Estava, como sempre, dividida, e não estava
sozinha, havia muitos professores como eu, divididos. Ouvi depois o ministro
indiferente ao drama, sobranceiro, a convocar todos para vigiar os exames, como
se os professores fossem substituíveis até pelo merceeiro e percebi o desrespeito
pela classe e pelo diálogo, nesse momento houve valores antigos que se tornaram
importantes, a solidariedade de classe, a indignação por sermos colocados entre
a espada e a parede. Não nos restava nenhum outro modo de afirmar essa
indignação perante a política cega e imediatista que agrava o desemprego e
empobrece o ensino público. Ora, penso, o maior mal do nosso país é o
desemprego, a falta de trabalho. Muitos há que não fizeram greve por medo de o
perder, desses, muitos, têm mesmo o emprego ameaçado. O que se pretende afinal?
Se alargamos o horário de trabalho de alguns professores é óbvio que outros
ficarão sem trabalho, não é preciso ser muito perspicaz para retirar essa
conclusão. Quantos ordenados se economizam? Quantos subsídios de desemprego?
Quantas pessoas à toa? Poderia ser um assunto insignificante mas é todo o
assunto, uma política destas têm consequências, além do desemprego de muitos, temos
os outros, os que ficam a trabalhar em todo o tipo de tarefas para além de dar
aulas, substituições de professores que faltam, assessorias, tutorias,
apoios vários para suprir a falta de funcionários, trabalho administrativo para
poupar no pessoal de secretaria etc etc etc. Esse é o projecto, ser professor
será cada vez mais uma tarefa de funcionalismo. O professor do ensino público
será um funcionário, isto é, uma espécie polivalente capaz de manter a
instituição e os respectivos jovens ocupados em tarefas, atentos fiscais do seu
cumprimento mais do que do ensino e na avaliação reais, quando digo real digo,
uma avaliação honesta que separasse os alunos que aprendem dos que não o fazem
e exigindo que os que não aprendam voltem a tentar e a perceber que têm de o
fazer, pois isso não é indiferente para a sua permanência na instituição. O
problema surge aqui, na tendência para se desvalorizar a actividade do ensino e
do saber, de facto a sociedade liberal valoriza empreendedores, mas não sábios,
esses são até uma raça de gente a evitar. Quanto ao ensino “a sério” passaria a
estar a cargo de instituições privadas. Basta olhar para os resultados do
ensino Público e Privado nos exames do 12ºano para perceber a tendência. Se há
dez anos o Público rivalizava em resultados semelhantes, hoje a clivagem é
muito maior. Porquê? Porque o investimento na preparação para os exames, que
passa por um certo grau de exigência científica, está, no público, minimizado,
se um professor do ensino público quiser mantê-lo terá de se recusar a levar a
exame muitos alunos, ora, reprovar alunos hoje é sinónimo de mau ensino, logo
de mau professor e ninguém quer estar na margem desse "sucesso" de
conseguir os resultados mínimos (mesmo que esse mínimo seja muito pouco) para
os seus alunos.
Pela primeira vez a sociedade
está dividida, porque pela primeira vez há uma atitude que tem resultados
visíveis na sociedade, parece que consideramos normal que uma paralisação do
trabalho seja coisa privada de uma classe, prejudicando apenas aqueles que a
fazem ao reduzir-lhes o ordenado. Mas a responsabilidade deste caos é a massa
de silêncios e atropelos dos últimos anos reduzindo progressivamente a justiça
e o bom senso necessários para que todos possam exercer o seu trabalho com
segurança.
Helena Serrão
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Greve
segunda-feira, junho 03, 2013
Greve às avaliações
Portugal tem um digno serviço público de
ensino. Tem fragilidades mas garante uma formação geral que, comparativamente
com outros países como a Inglaterra ou os Estados Unidos, é globalmente boa.
Portugal não tem uma economia que garanta emprego às pessoas, muitos não
arranjam trabalho, acima dos quarenta diria, pelos casos que conheço, é quase
impossível arranjar trabalho. Colocados estes dados, que, penso, são
consensuais, não há nenhum sistema de razões mais poderoso que aquele que nos
permite concluir o seguinte: Primeiro: aumentar as turmas e o horário de alguns
professores, os que estão há mais anos no ensino e, por isso, mais cansados,
para poder despedir com justa causa outros mais jovens mas não tão jovens que
possam arranjar aos trinta e tal anos outro trabalho, é, no mínimo inumano,
ilógico, insustentável.
Segundo: Se o Estado está falido e não tem
dinheiro para pagar aos seus funcionários, faça uma nova gestão do dinheiro que
tem para distribuir e não entre no absurdo capitalista de se considerar como
uma empresa de lucro, como tantas empresas capitalistas. As pessoas, a
educação, a saúde, não são elementos para o lucro capitalista. Não são.Ponto.
Há limites para o absurdo. Criar mais riqueza para criar outros empregos quando
isso implica despedir milhares de pessoas? Não tem sentido. Não tem sentido dar
mais trabalho a uns para tirar trabalho aos outros.Daí que esta greve às
avaliações seja o único instrumento da profissão que permite dar uma resposta a
este absurdo, é uma questão ética e política. Não contem comigo para ser cúmplice
desta pseudo-evidência de que se o barco se afunda, e os botes não chegam para
todos, salvem-se alguns. Corramos todos para os botes. Todos temos esse
direito. Se formos ao fundo, pelo menos vamos com dignidade. Não me quero "salvar" à custa da morte dos outros. A possiblidade deste pensamento dilemático já é um atentado à liberdade e à igualdade. Princípios nos quais acredito e defendo, seja qual for a circunstância.
Helena Serrão
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