Fotografia de Lewis Hine, (1874/1940)
(...) todos consideram que a denominada “sabedoria” é a respeito das primeiras causas e princípios. Consequentemente, conforme foi dito antes, reputa-se que o experiente é mais sábio que aqueles que detêm uma sensação qualquer; o técnico, mais sábio que os experientes; os mestres de obra, mais sábios que os “trabalhadores braçais”, e as ciências teóricas, mais ciência que as produtivas.
É evidente, portanto, que a sabedoria é uma ciência a respeito de certos princípios e causas.
Dado que procuramos essa ciência, devemos investigar o seguinte: a respeito de quais causas e de quais princípios a sabedoria é uma ciência? Ora, se assumirmos as conceções que temos a respeito dos sábios, disso poderá surgir, talvez, algo mais claro.
Concebemos, primeiramente, que um sábio conhece tudo, na medida do possível, sem ter conhecimento de cada coisa particular. Em seguida, consideramos sábio aquele que é capaz de conhecer coisas difíceis, isto é, que não são fáceis de conhecer para o homem comum (o sentir é comum a todos e, por isso, é fácil e não é “sábio”). Além disso, no que respeita a qualquer conhecimento, consideramos ser mais sábio aquele que é mais exato e que tem maior capacidade de ensinar as causas. E, entre as ciências, consideramos ser sabedoria antes aquela que é escolhida em vista de si mesma e graças ao saber, de preferência àquela que é escolhida em vista dos resultados;
(...)
Que ela não é um conhecimento produtivo, é evidente também pelos que primeiro filosofaram: de fato, os homens, tanto agora como no início, começaram a filosofar devido ao admirar-se, admirando inicialmente, entre as coisas surpreendentes, aquelas que estavam à mão, em seguida, paulatinamente progredindo e formulando impasses (hipóteses) sobre problemas maiores, por exemplo, sobre as afeções da lua, do sol e dos astros, e sobre a geração do todo.
Ora, quem formula impasses (hipóteses) e se admira julga ser ignorante (por isso, também o apreciador de histórias é de certo modo filósofo, pois as histórias constituem-se de fatos admiráveis); consequentemente, se filosofaram justamente para fugir da ignorância, é claro que buscaram conhecer pelo saber e não em vista de alguma utilidade. Assim testemunham os próprios acontecimentos: por assim dizer, essa sabedoria começou a ser buscada quando já se encontravam satisfeitas todas as necessidades concernentes à facilitação e ao divertimento. É evidente, então, que a buscamos não devido a outra utilidade, mas, tal como dizemos que é livre o homem que é em vista de si mesmo e não é de outro, do mesmo modo dizemos que apenas ela, entre os conhecimentos, é livre, pois apenas ela é em vista de si mesma.
(...)
Também é correto denominar a filosofia como “ciência da verdade”. O fim da ciência teórica é a verdade, e, da ciência prática, é a ação. De fato, se os que sabem agir também investigam de que modo as coisas se dão, estudam-nas não como eternas, mas em relação a algo e agora.
Não conhecemos o verdadeiro sem a sua causa. Cada coisa pela qual algo de mesma denominação se atribui a outras tem, ela própria, mais do que as outras, essa mesma denominação (por exemplo: o fogo é o mais quente, pois é ele que é causa da quentura para outras coisas). Por conseguinte, também é mais verdadeiro aquilo que é causa pela qual itens posteriores são verdadeiros. Por isso, necessariamente, os princípios dos entes que são sempre são sempre os mais verdadeiros (pois não são verdadeiros apenas em um dado momento; tampouco há algo que lhes seja causa do ser, mas são eles que são causas do ser para outras coisas);consequentemente, tal como cada coisa se tem em relação ao ser, do mesmo modo se têm em relação à verdade.
Aristóteles, Metafísica, Libro I e II, 981a 25 -993b 23
Tradução de Lucas Angioni, Fev.2008
Sem comentários:
Enviar um comentário