7. O caso seguinte serve para testar a teoria da justiça de Rawls.
Um indivíduo sofre de graves deficiências mentais, e um outro tem um grande talento matemático.
Estando satisfeitas as necessidades materiais de ambos, a sociedade dispõe de recursos adicionais que
permitem ajudar apenas um deles. Desse modo, ou o indivíduo com graves deficiências mentais terá um
apoio educativo suplementar, que não irá melhorar significativamente a sua vida, ou será proporcionada
uma educação superior ao indivíduo com talento matemático, que dela retirará a grande satisfação de
desenvolver todas as suas potencialidades nesse domínio.
Quem, contra Rawls, defender a opção de ajudar o indivíduo com talento matemático estará a pôr em
causa
(A) a existência de bens sociais primários.
(B) o dever de imparcialidade.
(C) o princípio da diferença.
(D) o princípio da igualdade de oportunidades.
A resposta correta seria, de acordo com os critérios oficiais, a C. Considero que essa resposta não é satisfatória de acordo com o problema. O problema consiste em considerar que o Estado deve apoiar o indivíduo mais talentoso em detrimento daquele com menos capacidades. Ora essa escolha acentua as desigualdades de nascimento, destruindo, em vez de criar, mais igualdade entre estes dois cidadãos. Violaria o princípio da igualdade de oportunidades e não o princípio da diferença, pois o texto é omisso em relação à contribuição do indivíduo mais talentoso e mais apoiado para o bem do outro, mais desfavorecido, não diz que essa mais valia é por si valiosa, ou que contribui para o bem geral ou outra qualquer consequência, logo, nenhuma seria possível tirar.
sexta-feira, junho 29, 2018
Erros do exame de Filosofia
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Exames de Filosofia-Provas,
Helena Serrão
sábado, junho 23, 2018
Poesia da Semana: O Homem Que LÊ (Rainer Maria Rilke)
O Homem que Lê
Eu lia há muito. Desde que esta tarde
com o seu ruído de chuva chegou às janelas.
Abstraí-me do vento lá fora:
o meu livro era difícil.
Olhei as suas páginas como rostos
que se ensombram pela profunda reflexão
e em redor da minha leitura parava o tempo. —
De repente sobre as páginas lançou-se uma luz
e em vez da tímida confusão de palavras
estava: tarde, tarde... em todas elas.
Não olho ainda para fora, mas rasgam-se já
as longas linhas, e as palavras rolam
dos seus fios, para onde elas querem.
Então sei: sobre os jardins
transbordantes, radiantes, abriram-se os céus;
o sol deve ter surgido de novo. —
E agora cai a noite de Verão, até onde a vista alcança:
o que está disperso ordena-se em poucos grupos,
obscuramente, pelos longos caminhos vão pessoas
e estranhamente longe, como se significasse algo mais,
ouve-se o pouco que ainda acontece.
E quando agora levantar os olhos deste livro,
nada será estranho, tudo grande.
Aí fora existe o que vivo dentro de mim
e aqui e mais além nada tem fronteiras;
apenas me entreteço mais ainda com ele
quando o meu olhar se adapta às coisas
e à grave simplicidade das multidões, —
então a terra cresce acima de si mesma.
E parece que abarca todo o céu:
a primeira estrela é como a última casa.
Rainer Maria Rilke, in "O Livro das Imagens"
Tradução de Maria João Costa Pereira
com o seu ruído de chuva chegou às janelas.
Abstraí-me do vento lá fora:
o meu livro era difícil.
Olhei as suas páginas como rostos
que se ensombram pela profunda reflexão
e em redor da minha leitura parava o tempo. —
De repente sobre as páginas lançou-se uma luz
e em vez da tímida confusão de palavras
estava: tarde, tarde... em todas elas.
Não olho ainda para fora, mas rasgam-se já
as longas linhas, e as palavras rolam
dos seus fios, para onde elas querem.
Então sei: sobre os jardins
transbordantes, radiantes, abriram-se os céus;
o sol deve ter surgido de novo. —
E agora cai a noite de Verão, até onde a vista alcança:
o que está disperso ordena-se em poucos grupos,
obscuramente, pelos longos caminhos vão pessoas
e estranhamente longe, como se significasse algo mais,
ouve-se o pouco que ainda acontece.
E quando agora levantar os olhos deste livro,
nada será estranho, tudo grande.
Aí fora existe o que vivo dentro de mim
e aqui e mais além nada tem fronteiras;
apenas me entreteço mais ainda com ele
quando o meu olhar se adapta às coisas
e à grave simplicidade das multidões, —
então a terra cresce acima de si mesma.
E parece que abarca todo o céu:
a primeira estrela é como a última casa.
Rainer Maria Rilke, in "O Livro das Imagens"
Tradução de Maria João Costa Pereira
quinta-feira, junho 21, 2018
O Som que os Versos Fazem ao Abrir de 28 Mar 2018 - RTP Play - RTP
O Som que os Versos Fazem ao Abrir de 28 Mar 2018 - RTP Play - RTP
Para que se goste ainda mais de Poesia.
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Poesia
terça-feira, junho 19, 2018
domingo, junho 17, 2018
(Foto:Seymour)
Ok...vamos com calma… só vos quero dizer…
BOA SORTE PESSOAL!!
Que todos os querubins do mundo vos inspirem!!
sábado, junho 09, 2018
Plurais filosofias, plurais objetos.
Não devemos, pois, admirar-nos que uma utilização imediata
tão impura projete sombra sobre o empirismo claro e deforme o nosso perfil
epistemológico. Basta manejar um instrumento mal afiado para que se constate
esta deformação psicológica. Basta uma raiz a interromper o ritmo da enxada
para que se apague a alegria do jardineiro, para que o trabalhador, esquecendo
a clara racionalidade da sua tarefa, anime o instrumento de uma energia
vingadora. Seria interessante circunscrever bem este conceito de energia
triunfante; ver-se-ia que ele dá a determinados pensamentos uma segurança, uma
certeza, um sabor, que enganam acerca da sua verdade. O perfil epistemológico
da noção de energia em Nietzsche, por exemplo, bastaria talvez para explicar o
seu irracionalismo. Com uma noção falsa pode fazer-se uma grande doutrina. (…)
Um conhecimento particular pode expor-se numa
filosofia particular; mas não pode fundar-se
numa filosofia única; o seu progresso implica aspetos filosóficos
variados. (…)
Em resumo, a qualquer atitude filosófica geral, pode
opor-se, como objeção, uma noção particular cujo perfil epistemológico revela
um pluralismo filosófico. Uma só filosofia é, pois, insuficiente para dar conta
de um conhecimento preciso. Se então se quiser fazer, a diferentes espíritos,
exatamente a mesma pergunta a propósito de um mesmo conhecimento, ver-se-á
aumentar singularmente o pluralismo filosófico da noção. Se ao interrogar-se
sinceramente acerca de uma noção tão precisa como a noção de “massa” um
filósofo descobre em si cinco filosofias, quantas se obterão se interrogarem
vários filósofos a propósito de várias noções! Mas todo este caos pode
ordenar-se se considerarmos que uma só filosofia não pode explicar tudo e se
quisermos dar uma ordem às filosofias. Por outras palavras, cada filosofia
fornece apenas uma banda do espectro nocional, e é necessário agrupar todas as
filosofias para termos o espectro nocional completo de um conhecimento
particular. Naturalmente, nem todas as noções têm, em relação à filosofia, o
mesmo poder dispersivo. É raro que uma noção tenha um espectro completo.
Existem ciências em que o racionalismo quase não existe. Existem outras em que
o realismo está quase eliminado. Para formar as suas convicções, o filósofo tem
muitas vezes o hábito de procurar apoios numa ciência particular, ou no
pensamento pré-científico do senso comum. Ele pensa então que uma noção é o
substituto de uma coisa, em vez de pensar que uma noção é sempre um momento da
evolução de um pensamento. Só será, pois, possível descrever a vida filosófica
das noções estudando as noções filosóficas implicadas na evolução do pensamento
científico. As condições tanto experimentais como matemáticas do conhecimento
científico alteram-se com tanta rapidez que os problemas se colocam
diferentemente para o filósofo de dia para dia. Para acompanhar o pensamento
científico, é necessário reformar os quadros racionais e aceitar as novas
realidades.
Gaston Bachelard, A Filosofia do Não, Abril S.A Cultural, S.
Paulo, p.28,29,30
A questão do racionalismo e do empirismo deveria ser estudada de acordo com este princípio, ele dá-nos a dimensão do jogo de reflexos dos conceitos e como eles não correspondem ao mesmo objeto apesar de serem nomes idênticos.
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Filosofia da Ciência,
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