COMO USAM OS FILÓSOFOS AS CELULAZINHAS CINZENTAS
Raciocinar
em filosofia é semelhante a raciocinar em outras áreas. Frequentemente
raciocinamos acerca de questões como 'Quem cometeu o crime?', 'Que carro
comprar?', 'Há um número primo maior do que todos?' ou 'Como curar o
cancro?' Ao abordar estes temas, clarificamos as questões e colhemos
informação de fundo. Consideramos o que outros disseram sobre o assunto.
Consideramos perspectivas alternativas e as objecções a estas. Fazemos
distinções e pesamos os prós e contras. O clímax do processo atinge-se
quando tomamos posição e tentamos justificá-la. Explicamos que a
resposta tem de ser tal e tal e apontamos para outros factos que
justificam a nossa resposta. Isto é raciocínio lógico, no qual vamos de premissas para uma conclusão.
Raciocinar
logicamente é concluir algo a partir de algo diferente. Por exemplo,
concluir que foi o mordomo que cometeu o homicídio a partir das crenças
(1) ou foi o mordomo ou a criada e (2) a criada não pode ter sido. Se
colocamos o racicínio em palavras temos um argumento - uma série de
proposições consistindo em premissas e uma conclusão:
Ou foi o mordomo ou a criada.
A criada não foi.
Logo, foi o mordomo.
[…] Este argumento é válido,
o que significa que a conclusão se segue logicamente das premissas. Se
as premissas são verdadeiras, então a conclusão tem de ser verdadeira.
Portanto, se podemos ter confiança nas premissas, podemos estar
confiantes de que foi mordomo que cometeu o crime.
Dizer
que um raciocínio é válido é dizer que a conclusão se segue das
premissas e não que as premissas são verdadeiras. Para provar algo
precisamos, além da validade do argumento, de premissas verdadeiras.
Provamos a nossa conclusão se ela se segue logicamente de premissas
claramente verdadeiras.
A
filosofia envolve muito raciocínio lógico. A forma mais comum de
raciocínio lógico em filosofia consiste em atacar-se uma tese P
argumentando que ela conduz ao absurdo Q:
Se P é verdadeiro, então Q também o será.
Q é falso.
Logo, P é falso.
Ao
examinarmos uma tese, consideramos as suas implicações e vamos à
procura das falhas. Se encontramos implicações claramente falsas, então
mostrámos que a tese é falsa; se encontramos implicações altamente
duvidosas, então a tese é duvidosa.
Na
formação das nossas perspectivas filosóficas são igualmente importantes
o raciocínio e o empenho pessoal. O raciocínio só por si não resolve
todas as disputas. Uma vez considerados os argumentos de um lado e de
outro, temos de tomar uma decisão. Se nos decidimos por uma perspectiva
que levanta fortes objecções, temos de estar à altura de lhes responder.
Harry Gensler, Ethics - A Contemporary Introduction. (London & New York, 1998, p. 3). Tradução de Carlos Marques.