Este reino da Internet não tem lei de autoria, vale tudo, mas não podemos deixar de ripostar. É um imperativo. Contra a atitude que copia, leva e coloca nos seus espaços internéticos material que é feito por outros sem mencionar qualquer autoria. Todos os materiais implicam horas de trabalho e trabalho é dinheiro. Podem levar tudo o que quiserem, ainda bem que gostaram! Até fico orgulhosa, admito! Mas têm que mencionar o autor do trabalho, por respeito às horas passadas a produzir o que está à distância do botão.
Assim é só uma forma de roubar sem ir parar à prisão!
O meu diapositivo da ética deontológica versus ética utilitarista aparece num site brasileiro (não menciono para não fazer publicidade ) assim como que saído das mãozinhas do senhor, que nada fez senão copiar e colar!!
Colocar o nome no diapositivo não adianta porque continuam a ser editáveis pelo Slideshare.
Também não vou perder o meu precioso tempo com estas cangalhadas de trancar isto ou aquilo.
segunda-feira, junho 22, 2020
Copiar sem mencionar o autor?
Mas está mal meus senhores! Haja decência!
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Outros
sábado, junho 20, 2020
Leibniz, em defesa de Deus
Marc Chagall, O pecado original, 1960
Leibniz (na Teodiceia) encarregou-se
de defender um Criador acusado de crimes sem paralelo. A sua defesa
reside em dois pontos. O primeiro é que o acusado não podia ter agido de outra
forma. Como qualquer outro agente, estava limitado às possibilidades que tinha
à Sua disposição. O outro ponto invoca o argumento de todas as ações do Criador
acontecerem para o melhor, de facto. Uma parte da defesa é uma investigação às
causas das ações do acusado, enquanto a outra tem a ver com a verdadeira
natureza das suas consequências no mundo. É aqui que as teses de Leibniz
parecem não só anteriores à experiência, mas nitidamente imunes a ela. Para
esse efeito, deixa bem claro que qualquer facto, por horrível que seja, é compatível
com a tese de este mundo ser o melhor
dos mundos possíveis. A afirmação de Leibniz não é uma teoria sobre a bondade
deste mundo; diz-nos simplesmente que nenhum outro mundo teria sido melhor. Aqueles
que tentaram contradizê-lo terão como resposta que não sabem o suficiente para
o fazer, o que será certamente verdade. (…)
A defesa da justiça divina feita por Leibniz depende da
divisão de toda a nossa aflição em mal metafísico, natural e moral. Será esta
classificação, associada à hipótese de haver uma relação causal entre aqueles
males, que nos parecerá violentamente necessitada de defesa. Para Leibniz, o
mal metafísico é uma degeneração inerente ao limite da(s) substância(s) de que
o mundo é feito. O mal natural é a dor e o sofrimento que sentimos nele. O mal
moral é o crime pelo qual o mar natural é a punição inevitável. A suposição de
o mal moral e natural terem uma relação de causa efeito nunca foi sujeita por
Leibniz a uma pesquisa minuciosa. (…)
Há muito tempo, a vida era como devia ser. A terra era um
jardim onde tudo era bom. A fome era saciada sem esforço; as crianças nasciam
sem dor. Não conhecíamos morte, nem vergonha, nem ruína. Se tivéssemos de
conceber um mundo, não o faríamos assim?
Se as coisas deviam ser desta maneira, alguma coisa deve
explicar como elas são. A ideia de que o problema foi causado pelos pecados dos
nossos antepassados não depende do que eles fizeram. Lamentarmos que provar o
tipo errado de fruta tenha sido suficiente para uma sentença de morte pender
sobre a cabeça de todos os descendentes, é falhar a questão filosófica essencial,
e as tentativas cristãs de fazer aquela ação parecer pior do que foi, são vãs.
Uma coisa trivial parece a explicação mais apropriada. O que conta, em primeiro
lugar, não e a justiça da relação entre o que eles fizeram e o que sofreram,
mas se deve haver alguma relação. Porque acontecem as coisas más? Porque se
fizeram as coisas más? Mais vale ter alguma explicação causal do que permanecer
no escuro. Relacionar o pecado com o sofrimento é separar os males do mundo em
males morais e naturais, e criar desse
modo um contexto para perceber as atribulações humanas.
Susan Neiman, O mal no pensamento moderno, Gradiva, Lx, 2005, p.37 e 38
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segunda-feira, junho 08, 2020
A Fé sendo o oposto da razão é a mais alta das virtudes humanas - Kierkegaard
Sacrifício de Isaac, Caravaggio, (1590-1610)
E é assim de facto. Acaso o espírito da mesquinha burguesia
que observo na vida e que não julgo pelas minhas palavras, mas pelos meus atos,
não será realmente o que parece? E será ela o verdadeiro prodígio? Podemos
admiti-lo, porque o nosso herói da fé oferecia uma flagrante semelhança com
esse espírito; não se tratava de um humorista nem de um ironista, mas de alguma
coisa de muito diferente. Em nossos dias fala-se demasiado de ironia e de
humor, sobretudo aquelas pessoas que não conseguiram nunca fazer nada, mas que,
apesar disso sabem explicar tudo. Pessoalmente não desconheço essas duas
paixões, sei um pouco mais acerca delas do que se diz nas coleções alemãs e
germano-dinamarquesas. Sei, por consequência, que são essencialmente diferentes
da paixão da fé. A ironia e o humor refletem-se sobre si próprios e pertencem,
por isso, à esfera da resignação infinita; encontram seus motivos no fato de o
indivíduo ser incomensurável com a realidade.
Apesar do mais vivo desejo, não posso efetuar o último, o
paradoxal movimento da fé, quer ele seja dever ou outra coisa. Tem alguém o
direito de afirmar que pode fazê-lo? Cabe-lhe a ele decidir; é um assunto entre
ele e o ser eterno, objeto da fé, saber se pode, a esse respeito, acomodar-se.
O que está ao alcance de qualquer homem é o movimento da resignação infinita e,
pela minha parte, não hesitaria em acusar de covardia quem quer que se julgasse
incapaz de o realizar. Porém, em relação à fé, já é outra questão. Não é
permitido a ninguém fazer acreditar aos outros que a fé tem pouca importância
ou é coisa fácil, quando é, pelo contrário, a maior e a mais penosa de todas as
coisas.
A história de Abraão é interpretada de outra maneira.
Celebra-se a graça de Deus que outorgou Isaac pela segunda vez; em toda a
história não se vê senão uma prova. Uma prova: é dizer muito e pouco: e, no
entanto, passou-se em menos tempo do que leva a contá-lo. Cavalga-se no Pégaso
e, num abrir e fechar de olhos, está-se em Morija, avista-se o cordeiro;
esquece-se de que Abraão fez a caminhada ao passo lento do seu burro, que levou
três dias de viagem e que lhe foi necessário um pouco de tempo para acender o
fogo, ligar Isaac e afiar a faca.
No entanto, faz-se o elogio de Abraão. O pregador pode
dormir sossegado até o último quarto de hora que antecede o seu discurso, e o
auditório pode adormecer escutando-o, porque, de um lado e de outro, tudo se
passa sem dificuldades nem inconvenientes. Mas, se há na assembleia um homem
atingido de insónia, talvez regresse a casa e, sentando-se no seu canto, pense:
Tudo isso se resume num momento; espera apenas um minuto, verás o cordeiro e a
prova terá terminado. Se o orador o surpreende nesta disposição, imagino que
vai avançar para ele, muito digno, para invectivá-lo: Miserável! Como podes
abandonar a tua alma a tal loucura! Não há milagre algum e toda a vida é uma prova!,
e à medida que vai falando, inflama-se, sente-se cada vez mais contente consigo
mesmo; e de tal maneira que, se durante o sermão sobre Abraão não se
congestionara, sente agora incharem-lhe as veias da testa. E talvez acabe mesmo
por perder o fôlego e a palavra, se o pecador lhe responder com tranquila
dignidade: Olha que eu queria pôr em prática o teu sermão de domingo passado.
Ou nos é necessário eliminar de uma vez a história de
Abraão, ou então temos que compreender o espantoso e inaudito paradoxo que dá
sentido à sua vida, para que possamos entender que o nosso tempo pode ser feliz
como qualquer outro, se possuir a fé. Se Abraão não é um zero, um fantasma, um
personagem de opereta, o pecador nunca será culpado de tentar imitá-lo; mas
convém reconhecer a grandeza da sua conduta para ajuizar se tem a vocação e a
coragem de afrontar uma prova semelhante. A única contradição do pregador
consiste em que faz de Abraão um personagem insignificante, ao mesmo tempo em
que exorta a tomá-lo como exemplo.
Urge então abster-nos de pregar acerca de Abraão. Creio, no
entanto, que não. Se porventura tivesse que falar sobre ele, pintaria antes de
mais a dor da prova. Para terminar, sorveria como sanguessuga toda a angústia,
toda a miséria e todo o martírio do sofrimento paternal para apresentar o de
Abraão, fazendo notar que, no meio das suas aflições, ele continuava a crer.
Recordaria que a viagem durou três dias e ainda uma boa parte do seguinte; e
mesmo esses três dias e meio duraram infinitamente mais tempo que os milhares
de anos que me separam do patriarca. Chegado a esse ponto, lembraria que,
segundo a minha opinião, todos podem dar meia volta antes de subir a Morija,
que todos podem a cada momento arrepender-se da decisão e voltar para trás.
Agindo desta maneira, não corro nenhum perigo nem receio, sequer, de despertar
em alguns o desejo de sofrerem a prova tal como Abraão. Mas, se alguém quer
introduzir uma edição popular de Abraão convidando todos a imitá-lo, cai no
ridículo.
É agora meu propósito extrair da sua história, sob forma
problemática, a dialética que comporta para ver que inaudito paradoxo é a fé,
paradoxo capaz de fazer de um crime um ato santo e agradável a Deus, paradoxo
que devolve a Abraão o seu filho, paradoxo que não pode reduzir-se a nenhum
raciocínio, porque a fé começa precisamente onde acaba a razão.
Soren Kierkegaard, Temor e tremor,, Guimarães Editores, Lx, 1959, p.91 a 95.
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segunda-feira, junho 01, 2020
O direito natural corresponde ao que a vontade geral deseja
Eugène Delacroix, A liberdade guiando o povo (1830)
Diderot, Direito natural, Artigo da Enciclopédia (1751-1765)
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