quarta-feira, janeiro 10, 2024

Os filmes

 


Filme “Dias perfeitos” de Wim Wenders

Filme com um homem cujo corpo é máxima expressão, os seus gestos configuram o que faz, faz com majestosa atenção em equilíbrio perfeito entre a sua vontade e a sua ação. O que faz é um conjunto de gestos envoltos numa singularidade única na sua precisão. Cada gesto perfaz a ação e cada ação é um conjunto de gestos rigorosamente medidos como se comunicassem mais sobre o que é um homem do que descrevessem aquilo que faz. Os gestos são assim sacralizados, atingindo um patamar de comunicação que transcende o gesto e nos aproxima do símbolo, numa experiência da essência da vida como um ritual cujo sentido nos escapa, cujo sentido não está ao nosso alcance; nessa condição a ação não se explica na sua finalidade útil, ela não aliena o seu agente, não o escraviza por causa do fim que exige mas antes o liberta em virtude de reverter a favor da rigorosa aplicação de um talento, da rigorosa aplicação de um carácter singular que vive mas, não se esgota no que faz antes o recria de acordo com o seu desejo e sensibilidade de modo a transformar o gesto mais humilhante em estético ou lúdico. Ou é isso que o cinema faz, o cinema transforma essa matéria concreta em comando invisível e força transformadora.

Talvez seja por isso que o filme me parece feliz, permite-me pensar a felicidade enquanto autenticidade de um ser que permanece na sombra, indizível, supremo, sem nunca poder ser catalogado ou mesmo entendido. Percurso lento estimulado pela própria aventura do acontecimento, a vida como oportunidade renovada de começar algo de novo, mesmo que pareça tudo repetido. HS

A banda sonora:

https://open.spotify.com/intl-pt/track/4TOMI010Sd4ZAX4aZ5TS85?si=6174b33015bc4fc2

 <iframe style="border-radius:12px" src="https://open.spotify.com/embed/track/4TOMI010Sd4ZAX4aZ5TS85?utm_source=generator" width="100%" height="352" frameBorder="0" allowfullscreen="" allow="autoplay; clipboard-write; encrypted-media; fullscreen; picture-in-picture" loading="lazy"></iframe>

Sem comentários: