Filme “Dias perfeitos” de Wim Wenders
Filme com um homem cujo corpo é máxima expressão, os seus
gestos configuram o que faz, faz com majestosa atenção em equilíbrio perfeito
entre a sua vontade e a sua ação. O que faz é um conjunto de gestos envoltos
numa singularidade única na sua precisão. Cada gesto perfaz a ação e cada ação
é um conjunto de gestos rigorosamente medidos como se comunicassem mais sobre o
que é um homem do que descrevessem aquilo que faz. Os gestos são assim sacralizados, atingindo um patamar de comunicação que transcende o gesto e nos aproxima do
símbolo, numa experiência da essência da vida como um ritual cujo sentido nos
escapa, cujo sentido não está ao nosso alcance; nessa condição a ação não se
explica na sua finalidade útil, ela não aliena o seu agente, não o
escraviza por causa do fim que exige mas antes o liberta em virtude de reverter
a favor da rigorosa aplicação de um talento, da rigorosa aplicação de um
carácter singular que vive mas, não se
esgota no que faz antes o recria de acordo com o seu desejo e
sensibilidade de modo a transformar o gesto mais humilhante em estético ou lúdico. Ou é isso que o cinema faz, o cinema transforma essa matéria concreta em comando invisível e força transformadora.
Talvez seja por isso que o filme me parece feliz, permite-me pensar a felicidade enquanto autenticidade de um ser que permanece na sombra, indizível, supremo, sem nunca poder ser catalogado ou mesmo entendido. Percurso lento estimulado pela própria
aventura do acontecimento, a vida como oportunidade renovada de começar algo de novo, mesmo
que pareça tudo repetido. HS
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