quarta-feira, outubro 09, 2024

Adelaide


Este texto é escrito no gabinte do meu departamento, de Ciências Sociais e Humanas. Daqui vê-se o mar embora a foto não mostre,  veem-se também outras coisas que não estão à nossa frente mas que se espraiam como ondas fortes no pensamento. A minha colega Adelaide senta-se aqui comigo, do outro lado da mesa onde escrevo. Ontem aqui esteve e antes de ontem e há uma semana e há um mês e mesmo nas férias em Agosto quando a Escola está meia silenciosa e os professores, na sua larga maioria, aquecem os pés ao Sol de Verão, a Adelaide vinha para o gabinete de Ciências Sociais e Humanas e sentava-se nesta mesa a trabalhar no computador. Há muitos anos que era parceira, nos tempos mortos, desta colega aqui, no gabinete e aqui com ela encetávamos e continuávamos conversas de muitos dias e horas. É verdade que no tempo as coisas ganham contornos mais definidos e é sem dúvida no tempo que também os laços afetivos mais fortes se constroem, com o tempo, testemunho e presença.

Hoje de manhã contaram-me que a Adelaide tinha sido levada de ambulância da Escola diretamente para o hospital onde tinha sido imediatamente operada, por causa de  um acidente cardio vascular grave. Hoje sinto  a falta da Adelaide, o seu lugar vazio do outro lado da mesa é uma presença dolorosa,  a sua voz, o seu arquear de sobrancelhas. Este texto é só para dizer isso, que contamos contigo Adelaide, para muitas voltas à Lua  e outras tantas ao Sol, aqui na Escola, no Departamento de Ciências Sociais e Humanas.

Helena Serrão

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