Harry Gruyaert, Bélgica 1941
Glauco — Quais são, então, na tua opinião, os verdadeiros
filósofos?
Sócrates — Os que amam o espectáculo da verdade.
Glauco — Talvez tenhas razão. Mas que entendes por isso?
Sócrates — Não seria fácil de explicar a outra pessoa, mas
creio que concordarás comigo nisto.
Glauco — Em quê?
Sócrates — Visto que o belo é o contrário do feio, trata-se de duas coisas distintas.
Sócrates — Visto que o belo é o contrário do feio, trata-se de duas coisas distintas.
Glauco — Claro.
Sócrates — E, visto que são duas coisas distintas, cada uma
delas é uma?
Sócrates — Acontece a mesma coisa com o justo e o injusto, o
bom e o mau e todas as outras formas: cada uma delas, tomada em si mesma, é
una; porém, dado que entram em comunidade com acções, corpos e entre si mesmas,
revestem mil formas que parecem multiplicá-las.
Glauco — Tens razão.
Sócrates — E neste sentido que eu diferencio, de um lado, os que amam os espectáculos, as artes e são homens práticos; e, de outro, aqueles a quem nos referimos no nosso discurso, os únicos a quem com razão podemos denominar filósofos.
Glauco — Tens razão.
Sócrates — E neste sentido que eu diferencio, de um lado, os que amam os espectáculos, as artes e são homens práticos; e, de outro, aqueles a quem nos referimos no nosso discurso, os únicos a quem com razão podemos denominar filósofos.
Glauco — Em que sentido?
Sócrates — Os primeiros, cuja curiosidade situa-se toda nos
olhos e nos ouvidos, amam as belas vozes, as cores e as figuras bonitas e todas
as obras em que entre alguma coisa de semelhante, mas a sua inteligência é
incapaz de enxergar e apreciar a natureza do próprio belo.
Glauco — E assim mesmo.
Sócrates — Mas não são raros aqueles que são capazes de se
elevar até à essência do próprio belo?
Glauco — Bastante raros.
Sócrates — Aquele que conhece as coisas belas, mas não
conhece a beleza em sua essência e não é capaz de seguir aos que poderiam
levá-lo a esse conhecimento, parece-te que vive sonhando ou acordado? Vê bem:
sonhar não é, quer se esteja dormindo, quer acordado, tomar a aparência de uma
coisa pela própria coisa?
Glauco — Sem dúvida que sonhar é isso.
Sócrates —
Contudo, aquele que acredita que o belo existe em si mesmo, que pode admirá-lo
na sua essência e nos objetos que nele participam, que nunca toma as coisas
belas pelo belo nem o belo pelas coisas belas, parece-te que este vive acordado
ou sonhando?
Glauco — Acordado, sem dúvida.
Sócrates — Então, não afirmaríamos
com razão que o seu pensamento é igual a conhecimento, visto que sabe, ao passo
que o do outro é igual a opinião, visto que julga sobre aparências?
Glauco —
Sem dúvida.
Sócrates — Porém, se este último, que, conforme nós achamos, julga
pelas aparências e, por isso, não conhece, se exaltasse connosco e contestasse
a veracidade da nossa afirmação, não teríamos nada a dizer-lhe para acalmá-lo e
convencê-lo serenamente, ocultando-lhe ao mesmo tempo que está doente?