Destruição de um campo de refugiados em Jabalia. Entre os dias 8 de julho e 27 de agosto, mais de 2100 palestinos morreram na Faixa de GazaO Campo de Jabalia é um campo de refugiados palestinos estabelecido em 1948 pelas Nações Unidas para abrigar os deslocados pela expulsão palestina de 1948. Localizado 3 quilómetros a norte de Jabalia, na Faixa de Gaza, é o maior campo de refugiados em território palestiniano, com mais de 100 mil habitantes.
É o método científico que sustenta a construção colectiva da
verdade. Não oferece uma verdade absoluta, mas um processo para testar,
refutar, corrigir e demonstrar, aproximando-nos do real. Ou seja, a ciência é
um percurso de dúvida permanente, de reavaliação contínua. Cada descoberta é
uma verdade temporária, válida enquanto resistir à experiência, e resulta de
uma cooperação diária entre milhões de pessoas que testam, desafiam e constroem
sobre o conhecimento acumulado.
E é por isso que o método científico é o motor do progresso.
Como sublinha Yuval Noah Harari em “Nexus”, foi a cooperação humana em larga
escala que permitiu à Humanidade prosperar. Essa cooperação sempre implicou
narrativas compartilhadas – sejam elas religiosas, económicas ou sociais.
O método científico é uma dessas narrativas. Ele estabelece
um quadro partilhado para que diferentes sociedades e indivíduos possam
confrontar ideias de forma racional e chegar a consensos baseados em provas.
Essa característica torna-o um dos poucos espaços verdadeiramente universais.
Daí que o método científico seja o alicerce das sociedades
abertas e plurais onde a verdade não é ditada pela força, mas conquistada pela
evidência. Ele cria um terreno comum que transcende crenças individuais,
permitindo que discordâncias sejam resolvidas pela razão. Esse processo fortalece
a democracia, garantindo debates informados e decisões colectivas enraizadas na
lógica e na transparência. No entanto, a inteligência artificial (IA) veio
alterar este estado de coisas, abrindo espaço tanto para a desacreditação como
para a substituição do método científico.
De facto a IA cria um espaço de dúvida radical, onde a
confiança naquilo que tomávamos como certo é abalada. Fotografias, outrora
prova de um acontecimento, são agora manipuladas com precisão. Um discurso
gravado pode ser replicado por algoritmos que imitam a voz, os erros e até as
emoções humanas. Mesmo transmissões ao vivo, símbolos máximos de autenticidade,
podem ser suspeitas de manipulação. É uma fábrica de dúvidas.
Neste tempo, qualquer facto pode ser rotulado como falso. Se
tudo pode ser falsificado, porquê aceitar o que desafia as nossas crenças? E se
qualquer prova pode ser desacreditada, porque não escolher a que confirma os
nossos preconceitos? Nos tempos de polarização, essa incerteza deixa de ser uma
possibilidade intelectual e transforma-se numa arma política e cultural que
descarta evidências com a desculpa de que são falsificadas – e só são
falsificadas porque nos desconfortam.
E, no entanto, nunca pareceu tão fácil fazer a sociedade
acreditar no que lhe é apresentado. Num ambiente saturado de informação e de
estímulos incessantes, a capacidade de distinção entre o verdadeiro e o falso
enfraquece. As pessoas acreditam porque o que vêem e ouvem confirma as suas
expectativas ou alimenta as suas emoções. A IA não só tornou a manipulação mais
sofisticada como acelerou a predisposição para aceitar narrativas
pré-fabricadas, sem o filtro do questionamento crítico.
Adolfo Mesquita Nunes, O Fim da verdade, in Expresso,31
janeiro 2025
É o método científico que sustenta a construção colectiva da
verdade. Não oferece uma verdade absoluta, mas um processo para testar,
refutar, corrigir e demonstrar, aproximando-nos do real. Ou seja, a ciência é
um percurso de dúvida permanente, de reavaliação contínua. Cada descoberta é
uma verdade temporária, válida enquanto resistir à experiência, e resulta de
uma cooperação diária entre milhões de pessoas que testam, desafiam e constroem
sobre o conhecimento acumulado.
E é por isso que o método científico é o motor do progresso.
Como sublinha Yuval Noah Harari em “Nexus”, foi a cooperação humana em larga
escala que permitiu à Humanidade prosperar. Essa cooperação sempre implicou
narrativas compartilhadas – sejam elas religiosas, económicas ou sociais.
O método científico é uma dessas narrativas. Ele estabelece
um quadro partilhado para que diferentes sociedades e indivíduos possam
confrontar ideias de forma racional e chegar a consensos baseados em provas.
Essa característica torna-o um dos poucos espaços verdadeiramente universais.
Daí que o método científico seja o alicerce das sociedades
abertas e plurais onde a verdade não é ditada pela força, mas conquistada pela
evidência. Ele cria um terreno comum que transcende crenças individuais,
permitindo que discordâncias sejam resolvidas pela razão. Esse processo fortalece
a democracia, garantindo debates informados e decisões colectivas enraizadas na
lógica e na transparência. No entanto, a inteligência artificial (IA) veio
alterar este estado de coisas, abrindo espaço tanto para a desacreditação como
para a substituição do método científico.
De facto a IA cria um espaço de dúvida radical, onde a
confiança naquilo que tomávamos como certo é abalada. Fotografias, outrora
prova de um acontecimento, são agora manipuladas com precisão. Um discurso
gravado pode ser replicado por algoritmos que imitam a voz, os erros e até as
emoções humanas. Mesmo transmissões ao vivo, símbolos máximos de autenticidade,
podem ser suspeitas de manipulação. É uma fábrica de dúvidas.
Neste tempo, qualquer facto pode ser rotulado como falso. Se
tudo pode ser falsificado, porquê aceitar o que desafia as nossas crenças? E se
qualquer prova pode ser desacreditada, porque não escolher a que confirma os
nossos preconceitos? Nos tempos de polarização, essa incerteza deixa de ser uma
possibilidade intelectual e transforma-se numa arma política e cultural que
descarta evidências com a desculpa de que são falsificadas – e só são
falsificadas porque nos desconfortam.
E, no entanto, nunca pareceu tão fácil fazer a sociedade
acreditar no que lhe é apresentado. Num ambiente saturado de informação e de
estímulos incessantes, a capacidade de distinção entre o verdadeiro e o falso
enfraquece. As pessoas acreditam porque o que vêem e ouvem confirma as suas
expectativas ou alimenta as suas emoções. A IA não só tornou a manipulação mais
sofisticada como acelerou a predisposição para aceitar narrativas
pré-fabricadas, sem o filtro do questionamento crítico.
Adolfo Mesquita Nunes, O Fim da verdade, in Expresso,31
janeiro 2025